Por que...Só deus sabe







Só Deus Sabe Não sei quantas linhas eu tenho pra escrever este artigo. Mas sei o que pode acontecer, durante este tempo que escrevo, com parte da população jovem deste país. Sei, por exemplo, que muitos estarão iniciando, hoje, seus ciclos de uso de drogas; sei também que mais de 10% destes estarão fadados a morrer miseravelmente por causa do uso dessas drogas ou acabarão por apodrecer numa prisão ou hospital pra dementes; sei ainda que alguns usarão durante um período e se afastarão por algum motivo maior, mas mesmo assim terão perdas – e algumas dessas perdas, irreparáveis. E sei mais: que outros tantos experimentarão apenas uma, duas, três vezes e entenderão (só Deus sabe como) que existem coisas mais importantes, interessantes, saudáveis e, principalmente, transformadoras pra fazer do que ficar fumando maconha/crack/cigarro, cheirando cocaína/cola, tomando balas e doces ou enfurnados num botequim bebendo cerveja e cachaça. Outra coisa que eu também não sei é o que fazer pra evitar o primeiro momento de uso de drogas desses jovens. Sim, porque o uso geral de drogas faz parte da história da humanidade. Vem desde os antigos rituais envolvendo as bebidas alcoólicas, o peiote, o haxixe, a canabis até os dias atuais com mais bebidas, drogas de farmácia, sintéticas e as tradicionais. Quanto aos nossos jovens, acredito inclusive que a decisão de experimentar a primeira sustância que lhes propiciará a fuga da realidade, o universo da coisas impossíveis, seja anterior mesmo ao fato do consumo das drogas. Pois a sociedade está tão envolvida numa nuvem de apelação, de convites, de sedução ao consumismo, que a droga se tornou mais um produto deste vasto mercado. E ninguém fica longe das ofertas, ninguém fica fora da possibilidade de adquirir. A facilidade na entrega, na forma de pagamento e a quantidade de pontos de venda é tão grande que é só uma questão de... só Deus sabe quando. O que eu ainda não sei bem, atualmente, é quem está do lado de quem ou do quê. Vejo que pessoas que deveriam se posicionar e dar exemplo – como alguns pais, educadores, autoridades – preferirem se omitir. Pior, ensinar os caminhos imediatos do prazer, as fórmulas do alívio da dor necessária e os atalhos da facilitação e das vantagens desmedidas. E também vejo pessoas – como alguns artistas, intelectuais, desportistas – que deveriam ajudar a formar uma sociedade fortalecida em saúde, cultura e conhecimento – e este é um processo empírico como é a própria vida –. Mas não. Emitem suas opiniões na mídia sem a menor responsabilidade, sem a consciência dos verdadeiros xamãs, líderes ou ídolos que zelam pela integridade da camada desfavorecida da sociedade, que aqui me refiro como os nossos jovens que ainda não têm tempo de vida pra saber e optar com segurança. Só Deus sabe quem vai tomar a situação e ficar entre os produtores/comerciantes/distribuidores e esses jovens que só querem experimentar o banquete da vida. Mas às vezes ficam só nas migalhas. O que nunca vou saber mesmo é o ponto, a linha que divide o que é dependência química – uso abusivo/indevido de drogas – e o direito legitimo de fazer-se uso de qualquer coisa que se pretenda consumir sem que pra isso acarrete necessariamente prejuízo a outros ou a si. Algumas pessoas podem saber o momento e o local de se utilizarem de artifícios de prazer e descontração da vida; outras necessitam de medicamentos e drogas pra simples sobrevivência e qualidade de vida. Mas nem as ciências e seus representantes conseguem explicações e resultados que livrariam esses usuários de erros na dosagem. Erros que atravessam a linha tênue fronteiriça do uso e abuso, que podem levar ao deslize pro abismo do inferno das drogas. E que ninguém sabe direito como se volta. Só Deus sabe.


PAULO ANTUNES Arteterapeuta Especializado em Dependência Química – Ator e Dramaturgo – Autor junto com Jitman Vibranovski do Livro “Quem Não Tem Problema Com Droga?”
Terapeuta do Núcleo Integrado, atendendo a jovens usuários e a dependentes quimicos

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