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As drogas que podem aparecer no seu carnaval e como cada uma funciona


Sem hipocrisia, sabemos que apesar de ilegais essas substâncias pintam no carnaval de muita gente. Entenda o que cada uma causa no seu corpo: os efeitos e riscos
publicado 20/02/2017 por 


Foto: Brian Rogers
Se os quatro dias – ou mais –  de festa do carnaval são conhecidos como momento da música, pegação e fantasia, para muita gente a folia também tem a fama de ser uma data de alto consumo de drogas. A data inclusive, como qualquer grande manifestação popular, pode marcar o aparecimento de uma droga. Como foi o caso do Lança Perfume, solvente químico que chegou ao Brasil na década de 1900 e esteve presente nos carnavais em quase todo o século XX. Até hoje, a droga é associada ao carnaval brasileiro.
Desde o Lança Perfume, outras drogas surgiram. O MDMA – metilenodioximetanfetamina – é a droga do momento (saiba mais sobre ele e outras substâncias no final da matéria). Apesar de sua fama ser recente (seu uso começou a se popularizar em 2014 no Brasil), ela já aparece na lista do Global Drug Survey como uma das dez mais consumidas no mundo. São grandes as chances de você ter ouvido alguém falar da água do amor no último carnaval.
E foi quando Paulo*, morador de São Paulo, conheceu a substância. “Você não consegue dormir, fica muito disposto, e sua percepção dos sentidos fica muito aguçada. É algo parecido com tomar uma ‘super’ Ritalina: você fica muito atento a tudo e dura por bastante tempo. Também é fácil de carregar o MDMA, já que você pode diluir na água e, para uma festa como o carnaval, é um uso muito mais fácil que acender um cigarro ou cheirar algo”, conta.
Vale ressaltar que a substância é ilegal no país, como muitas outras das que circulam nos blocos, cordões e festas de carnaval. No entanto, como a ilegalidade não impede que elas circulem, especialistas têm defendido a importância de que se difunda a informação sobre os efeitos dos químicos no corpo, para que usuários consumam de maneira consciente. “É importante falarmos sobre para informarmos e, assim, prevenir. Quando há campanhas de conscientização, os usos de risco de drogas diminuem, assim como diminuem as consequências nocivas envolvidas. Quando não há campanhas preventivas, podemos esperar um quadro mais preocupante de abuso”, afirma o psicólogo clínico Lucas Francis Ong, autor do livro “O uso de drogas na consumação da Modernidade” (2016).
Na Holanda, isso é levado a sério. No final de 2016, a emissora pública BNN lançou o canal de YouTube “Drugslab”. Cada episódio é dedicado a uma droga lícita ou ilícita, em que os apresentadores a consomem para falar de seus efeitos e danos. Há apenas um semestre no ar, o canal já tem mais de 333 mil inscritos e já experimentou mais de 15 drogas diferentes, de cafeína a mescalina. Segundo os produtores, o objetivo dos vídeos é o de educar as pessoas sobre usos e efeitos das drogas de maneira a não reproduzir hipocrisias e moralismos sobre o tema.

Conhecer para se cuidar

Além do canal do Youtube, usuários de substâncias químicas também podem encontrar informações em outras fontes. O site Global Drug Survey disponibiliza informações sobre as drogas lícitas e ilícitas mais usadas no mundo atualmente, com dados das pesquisas realizadas desde 2000, e ainda conta com ferramentas online que indicam maneiras seguras de consumir drogas ilícitas.
A ferramenta “Safer Use Limits”, ainda em construção, permitirá que o usuário entenda o consumo e efeitos, assim como avalie o seu próprio uso das cinco principais drogas em circulação no mundo: álcool, maconha, cocaína, ketamina e MDMA. Até o momento, é possível acessar os dados sobre a maconha.
Já no início da navegação pela ferramenta, contudo, o usuário é avisado que um guia sobre o uso seguro não torna a droga em si segura. Também há o alerta de que o site não foi pensado para menores de idade, porque o uso de drogas na adolescência pode causar prejuízos duradouros na capacidade cognitiva e emocional dos jovens.
Segundo o Global Drug Survey, um levantamento sobre tendências e riscos de novas drogas realizado desde 2000 por pesquisadores de 20 países, incluindo o Brasil, as drogas ilícitas mais utilizadas no Brasil em 2015 foram, por ordem de uso: maconha, LSD, cocaína, ecstasy e benzodiazepínicos (são os ansiolíticos como Diazepam, Rivotril, Lexotam, Lorax, entre outros. Seus usos convencionais são para efeito sedativo, hipnótico, relaxantes musculares etc).
Em nível global, o GDS demonstrou que um em cada quatro usuários precisaram de atendimento emergencial no uso da metanfetamina. Além disso, a pesquisa tem constatado que novas drogas ilícitas têm aparecido no mercado todos os anos desde o começo do século XXI. Em 2015, por exemplo, o estudo constatou pela primeira vez o consumo de maconha sintética no Brasil. Naquele ano – os dados de 2016 ainda não foram compilados – essa nova droga levou um a cada oito usuários brasileiros a procurarem serviços de emergência em decorrência do uso da substância. A maconha sintética é uma droga 85 vezes mais potente que a maconha natural e um de seus efeitos é deixar o usuário com uma força sobre-humana, segundo um estudo publicado no ano passado no The New England Journal of Medicine.
É importante ressaltar que, além dos riscos inerentes do consumo das substâncias em si, as drogas podem trazer um outro problema ligado à sua qualidade. Por serem ilegais, elas não têm nenhuma fiscalização ou teste de qualidade e muitas vezes podem vir misturadas a outros elementos nocivos à saúde.
Sandra*, moradora de São Paulo e consumidora dos mais variados tipos de drogas há mais de dez anos, relata que já foi enganada ao comprar uma droga. “Eu gostaria de ter um kit que testa a qualidade das drogas, algumas pessoas têm. É um composto que você reage com a substância que quer consumir. Você consegue descobrir a pureza da droga e suas substâncias e isso é muito importante pelo fato de, pelas drogas serem ilegais, nós nunca sabemos o que estamos consumindo, não há nenhum controle”. Sandra conta que já tomou uma substância achando que era MDMA e, depois de passar muito mal, percebeu que havia sido enganada e não sabia o que tinha ingerido.
Outro aplicativo importante para usuários de drogas e pessoas em busca de informações sobre consumo e efeitos é o “Drugs Meter”. Nele, é possível o usuário ver quantas pessoas no mundo, segundo levantamento do Global Drug Survey, usam a mesma droga e quantas têm o mesmo perfil social e sexual que o seu.
Por meio de comparação de fotos, o aplicativo também permite o usuário identificar a qualidade da droga consumida por ele, assim como fazer uma avaliação da maneira como consome determinada droga (ingestão, inalação, combinada com outra droga; por meio de cigarros, por cachimbos, por vaporização, etc) e da quantidade e dias de consumo no mês. Ao final do teste, o aplicativo faz uma escala de perigo e efeitos sobre o consumo que o usuário informou fazer da droga.
Vale ressaltar que a legislação brasileira em relação ao consumo e comércio de drogas é rigorosa. O tráfico de drogas é considerado crime hediondo no país, sendo que pessoas enquadradas em crimes hediondos não têm direito a nenhum tipo de perdão da pena, como anistia, graça ou indulto, e também não podem ser libertas por fiança. Tais penas também são cumpridas inicialmente em regime fechado.
Já quem for pego ao “adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar” será submetido a: advertência sobre os efeitos das drogas; prestação de serviços à comunidade; medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Todas essas penas estão previstas no Artigo 28 e podem ser aplicadas por até cinco meses. O texto do artigo também traz: “Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente”.

É legal, mas também é droga 

Falando de drogas no carnaval, não podemos esquecer a mais consumida de todas: o álcool. O Brasil é o segundo país em consumo abusivo de álcool, ficando atrás apenas da Irlanda, segundo o Global Drug Survey. De acordo com o estudo, cerca de 27% dos entrevistados brasileiros afirmaram ficar extremamente embriago pelo menos uma vez no mês.
“Apesar das drogas ilícitas serem as que em geral mais geram preocupação e cuidado – e mesmo com um aumento indiscriminado de antidepressivos e ansiolíticos – as drogas mais consumidas no Brasil continuam sendo álcool e tabaco”, explica o psicólogo clínico Lucas Francis Ong.
Para ele, é preciso fazer uma educação sobre as drogas como parte de prevenção, principalmente uma educação sobre o consumo do álcool no Brasil. Bebidas alcoólicas, segundo o pesquisador, deveriam ser a principal atenção de políticas públicas voltadas às drogas. “Não temos propaganda de maconha, cocaína, heroína, mas temos uma intensa e poderosa campanha publicitária do álcool. Por mais que tenhamos novas drogas com efeitos mais estimulantes que o álcool, ele é sempre a droga mais utilizada, e pior, que sequer é vista como droga na maior parte das vezes”, afirma.
O uso insistente de uma determinada droga em um país, para o pesquisador, representa também os hábitos culturais daquela população. O consumo do álcool no Brasil, assim, pode ser considerado quase que um traço da cultura nacional, uma vez que o uso irresponsável dessa droga muitas vezes está relacionado à “violência doméstica, acidentes automobilísticos e abusos sexuais”.
“Temos no Brasil, assim como em muitos outros países, uma divisão entre drogas lícitas e ilícitas que não se baseia na saúde pública ou bem-estar da sociedade, ou o álcool seria a primeira droga a ser proibida aqui. Isso mostra que o Brasil, como todo outro país sujeito a este dualismo, está imerso em uma enorme hipocrisia na sua política antidrogas”, explica.

Falemos então sobre as drogas

MACONHA
O que é?
Droga da planta Cannabis sativa.  É utilizada por meio de cigarros, bongs e cachimbos.
Quais os efeitos e riscos?
  • Risada
  • Os efeitos psíquicos podem variar de pessoa para pessoa de acordo com quantidade consumida e estado emocional:  podendo gerar alegria, relaxamento e bem estar em alguns, mas angústia, medo, tremores e sudorese.
  • Percepção do tempo alterada
  • Memória a curto prazo e atenção são alteradas
  • Olhos vermelhos
  • Boca seca
  • Taquicardia
  • Reduz náuseas e vômitos produzidos por medicamentos anticâncer
  • Efeito benéfico em alguns casos de epilepsia
Como ajudar alguém passando mal?
O ideal é ajudar a pessoa a relaxar e se acalmar: leva-la para outro ambiente e coloca-la em um lugar agradável, com menos luz, menos pessoas e pouco barulho. Faça com a pessoa respirações profundas e demoradas.
 LSD
O que é?
Dietilamida do ácido lisérgico. Popularmente, também é conhecida como “doce” ou ácido. É produzido em laboratórios, portando sintética, e é muito potente, mesmo em pequenas quantidades. É utilizado por ingestão e vendido sob a forma de um pequeno pedaço de papel, que é colocado embaixo da língua. Também é usado através de conta-gotas, bebidas ou selos de cartas. Não possui odor, cor ou sabor.
Quais os efeitos e riscos?
  • Alucinações
  • Pupilas dilatadas
  • Aumento da temperatura do corpo
  • Aumento dos batimentos cardíacos
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor
  • Perda de apetite
  • Falta de sono
  • Boca seca
  • Tremores
Como ajudar alguém passando mal?
A pessoa que entra em overdose – quando a substância utilizada está em uma quantidade maior do que o corpo pode aguentar – precisa de atendimento médico imediato. Ao chegar no hospital, é preciso informar ao socorrista qual substância foi utilizada, a quantidade e quando foi usada. Não se deve dar nada para a pessoa beber, a não ser água, e, em nenhuma ocasião, o vômito deve ser induzido.
Se a pessoa tiver uma “bad” (efeito psíquico de medo e pânico provocado pela droga), leve-a para um lugar tranquilo, de água e ajude-a a respirar tranquilamente.
COCAÍNA
O que é?
Pequenos cristais brancos de cloridrato de cocaína, uma substância natural, extraída das folhas da coca, uma planta exclusiva da América do Sul. É solúvel em água, por isso pode ser misturada em bebidas, mas seu uso mais convencional é aspirando-a.
Quais os efeitos e riscos?
  • Sentir-se confiante, seguro, forte, eufórico e criativo
  • Aumento da energia
  • Agressividade é um dos sintomas possíveis
  • O uso intenso e repetitivo pode levar sensações de cansaço e intensa depressão
  • Aumento da pupila (que pode deixar a visão prejudicada por um período)
  • Em casos extremos, pode causar parada cardíaca, levando a morte
Como ajudar alguém passando mal?
A pessoa que entra em overdose – quando a substância utilizada está em uma quantidade maior do que o corpo pode aguentar – precisa de atendimento médico imediato. Ao chegar no hospital, é preciso informar ao socorrista qual substância foi utilizada, a quantidade e quando foi usada. Não se deve dar nada para a pessoa beber, a não ser água, e, em nenhuma ocasião, o vômito deve ser induzido.
ECSTASY
O que é?
Também conhecido como “bala” por ter o formato de um comprimido colorido que parece uma balinha. É composto pela 3,4-metilenodioximetanfetamina, o MDMA, misturada a outras substâncias como anfetaminas. É a droga associada a baladas e raves.
Quais os efeitos e riscos?
  • Diminuição do cansaço
  • Aumento significativo da energia
  • Aumento de batimentos cardíacos e da pressão arterial
  • Aumento da temperatura corporal , que pode levar a pessoa a desidratação.
  • O uso crônico da droga pode levar a problemas hepáticos e problemas cardíacos
  • Transtornos psiquiátricos podem surgir.
Como ajudar alguém passando mal?
A pessoa que entra em overdose – quando a substância utilizada está em uma quantidade maior do que o corpo pode aguentar – precisa de atendimento médico imediato. Ao chegar no hospital, é preciso informar ao socorrista qual substância foi utilizada, a quantidade e quando foi usada. Não se deve dar nada para a pessoa beber, a não ser água, e, em nenhuma ocasião, o vômito deve ser induzido.
 MDMA
O que é?
Conhecido como o “novo ecstasy”, o MDMA é uma droga potente, em que 1 grama rende até sete doses, e seus efeitos são parecidos com o do ecstasy tradicional, já que é uma das substâncias alucinógenas que o compõem o ecstasy. E assim como neste, a anfetamina também faz parte da composição do MDMA.
Quais os efeitos e riscos?
  • Diminuição do cansaço
  • Aumento significativo da energia
  • Aumento de batimentos cardíacos e da pressão arterial
  • Aumento da temperatura corporal , que pode levar a pessoa a desidratação.
  • Diminuição da sensação de medo
  • Ataques de pânico
  • Psicoses e alucinações visuais,
  • Boca seca
  • Náusea
  • Sudorese
  • Euforia
Como ajudar alguém passando mal?
A pessoa que entra em overdose – quando a substância utilizada está em uma quantidade maior do que o corpo pode aguentar – precisa de atendimento médico imediato. Ao chegar no hospital, é preciso informar ao socorrista qual substância foi utilizada, a quantidade e quando foi usada. Não se deve dar nada para a pessoa beber, a não ser água, e, em nenhuma ocasião, o vômito deve ser induzido.
BEBIDA ALCOÓLICA
O que é?
Bebida que contém teor alcoólico e que pode ser destilada (vodka, uísque, pinga, cachaça etc) ou fermentada (cerveja).
Quais os efeitos e riscos?
  • Dificuldade em andar reto, em falar, completar frases e se manter de pé
  • Em casos extremos, resulta no coma alcoólico, que pode levar a morte se a pessoa não receber ajuda médica imediata. Sintomas do coma alcoólico são vômito, sonolência excessiva e desmaios. Para que não se chegue ao coma, o ideal é intercalar a ingestão do álcool com ingestão de água.
Como ajudar alguém passando mal?
O ideal é chamar um SAMU ou levar a um pronto socorro imediatamente. Manter a pessoa deitada de lado, para evitar quedas e sufocamentos com vômitos. Não se deve dar nada para a pessoa beber, a não ser água, e, em nenhuma ocasião, o vômito deve ser induzido.
Fontes: CEBRID e Drugslab

SOBRE @ AUTOR@:

Lais Modelli
Laís é ativista, jornalista e mestre em Comunicação Midiática, especializada em feminismo e cibercultura. É criadora da página Nem Uma Mulher Mais e escreve grandes reportagens sobre gênero e política para a revista Caros Amigos desde 2012. Foi correspondente internacional no México e tem muito apreço pela história das mulheres latinas. Sonha em ser escritora um dia.

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